25 de fev. de 2014

DIFERENÇAS ENTRE POMBAGIRAS E CIGANAS


Em sua obra, “O Exu Desvendado”, Miriam Prestes esclarece:

Há dois tipos de espíritos ciganos que incorporam na umbanda:

- o Povo Cigano do Oriente.
- A Pombagira Cigana e o Exu Cigano.

O Povo Cigano do Oriente, mesmo vindo na gira de Exu, sempre deixa bem claro que ele "não é Exu", mas vem nessa Linha para poder trabalhar.
São suaves na fala, de comportamento dócil e extrema meiguice. São as únicas entidades (nas giras de Exu) que trabalham com crianças, permitindo-lhes a aproximação e os passes. 
Alguns até aceitam ser padrinhos espirituais dos pequenos.

Sua dança não tem o ritmo pesado dos Exus, sendo leve, marcando uma coreografia mais típica dos ciganos encarnados através
do sapatear, o bater de palmas sobre a cabeça, o estalar de dedos como castanholas.

Tanto os Ciganos quanto as Ciganas do Oriente não dão gargalhadas ao chegar, típico comportamento de Pombagiras, e as cores de seus vestuários geralmente são coloridas, afastando-se do vermelho puro.

Como materiais utilizam-se de coisas aparentemente simples como frutos (predominantemente a maçã), fitas de várias cores, perfumes, varetas de incenso, moedas, ervas, temperos (canela, cravos da índia, açúcar cristal, erva-doce, hortelã, gergelim), pães, moedas, cristais e pedras semipreciosas, tecidos finos, joias imantadas, muito mel e suas oferendas costumam ser mais parecidas com os pratos ciganos do que propriamente aqueles servidos a qualquer Exu.

O Povo Cigano do Oriente aprecia carne de porco como chuletas (carré) fritas, carne de frango ou, se possível, de peru com sal, temperos, às vezes com um pouco de mel em vasilhas simples, de barro ou cestos de vime. Arroz doce, coquetéis à base de frutas (inclusive com leite condensado), licores de frutas, amam o vinho tinto, frutas variadas (apreciam muito as maçãs e os morangos), favas de pichulin (patchouli) ralados ou não, tchaios (chás da índia com açúcar ou mel com frutas picadas), ponches, frutas secas
e cristalizadas ou em calda, velas das mais diferentes cores, sempre
obedecendo à receita individual de cada entidade não havendo jamais similar, mesmo que a entidade use o mesmo nome.

Nas giras, algumas gostam de ler a mão, abrir o tarô.

Esse Povo jamais aceita o sacrifício animal, sob nenhuma hipótese, e apresentam um diálogo mais rico, mais repleto de sabedoria do que os demais.


Já as Pombagiras Ciganas, aquelas que se dizem Exu, fazendo parte dessas trincheiras, mostram uma atitude muito diversa daquela relatada acima.
Quando chegam dão gargalhadas à semelhança de todas as pombagiras ou um grito estridente, de uma única nota aumentando a sonoridade ao final, cumprimentando congás e tronqueiras exibindo o tridente (o gesto indiano de trishula) com os dedos.

Seu dançar é pesado como os demais Exus, não guardando em nenhum momento os movimentos de dança cigana, salvo tremular a mão como se segurasse um pandeiro. Como as Ciganas do Oriente, giram muito. Seus rostos apresentam uma certa alegria nervosa quando chegam no terreiro, mas logo fecham-se em um rosto muito severo.

Sua fala é similar àquela dos Exus. Seca, irônica, às vezes rude. 
Não procura ser simpática, sendo às vezes até dasaforada, mas sempre, em sua malícia, despertam afinidades junto ao público feminino que as procuram para tratar de assuntos como falta de emprego, dinheiro, amor. Essas pombagiras ciganas também trabalham em demandas pesadas e às vezes "cruzam-se"
(afinizam-se) com o Povo do Cemitério. Algumas delas dizem-se "do forno", "do cemitério", "da calunga", mantendo como par vibratório um Exu notadamente dessas regiões.

Essas pombagiras, contrariamente ao Povo Cigano, poderão vestir-se de vermelho dos pés à cabeça, mas jamais usarão o preto guardando uma antipatia por essa cor por julgá-la "de má sorte", “de luto”.

Suas oferendas costumam ser aquelas típicas de Exu, misturadas com o Povo Cigano. Assim, entre farofas e pipocas, poderemos encontrar maçãs e frutos, aceitando mel e o azeite-de-dendê, simultaneamente. Fumam cigarros, cigarrilhas e algumas ciganas fumam charutos, à semelhança de algumas mulheres desse povo, geralmente as mais velhas.

Como todo o Povo Cigano, adoram receber bijuterias como presentes por graças alcançadas, lenços, adornos simples, quando mantida a doutrina de pedir pouco, fazendo muito.

A Pombagira Cigana aceitará velas vermelhas (jamais vermelho e preto) e, algumas, velas cor de rosa (cor do Povo do Oriente), bem como materiais de trabalho nessa cor. Nota-se também que o uso, o manuseio desses elementos demonstram fazer um trabalho "mais pesado". Mais parecido ao qual um Exu comum faria.

Em suma, a pombagira ou o exu cigano é uma entidade liminar entre o Povo de Exu e o Povo Cigano. Ela não é de todo um, nem de todo, outro. Eis porque seu tratamento e doutrina será mais severa do que a Cigana do Oriente, mais dócil e mais evangelizada.

Tanto uma, quanto outra sempre terão um nome próprio. Assim, como exemplo, a pombagira cigana dirá chamar-se "Pombagira Cigana Fulana da Estrada", utilizando-se qualquer nome próprio válido dentro da grande relação existente para essas entidades.
O mesmo fará as Ciganas do Oriente, que poderão chamar-se "Cigana Fulana do Oriente", "Cigana Fulana da Estrada", "Cigana Fulana do Pandeiro" ou "Cigana Fulana Cartomante" em
atributos típicos desse Povo, salientando bem que não é uma pombagira comum para responder em lugares como encruzilhada, cruzeiros, calunga, forno, cemitério.